Muitos leitores do blog da Mosto Flor – nova importadora e loja online de vinhos ultra-premium e icônicos – perguntam sobre uma das regiões mais famosas do mundo dos vinhos – Saint Émilion. Nas primeiras lições sobre os vinhos de Bordeaux logo surgem os termos “margem direita” e “margem esquerda” em referência ao lado em que a comuna ou o château está em relação ao estuário do rio Gironde.
Isto porque dependendo do lado, solos, ventos, exposição solar mudam consideravelmente e isto implica na excelência de diferentes variedades e personalidade distintas nos vinhos.
Como os rios Dordogne e Garonne, que se juntam formando o Gironde, corre em direção ao Atlântico, quando se fala em margem esquerda é onde está o Médoc, com suas célebres comunas Pauillac, Margaux, St-Julien e St-Estèphe, por exemplo, e onde a Cabernet Sauvignon alcança seu esplendor.
Berço de excelência da Merlot
Do outro lado, na margem direita, estão as igualmente respeitadas Saint-Émilion e Pomerol. Mais extensa territorialmente que Pomerol, St-Émilion conta com classificação própria e é berço de excelência da Merlot.
Com casca fina, a Merlot é sensível ao stress hídrico e picos de calor, por isso se dá melhor em solos com um pouco de argila e que retêm mais água, caso de St-Émilion. Esta é a principal condição que separa as comunas da margem direita em relação à margem esquerda de Bordeaux. Enquanto a Cabernet Sauvignon pede por calor e tolera solos mais pobres (como nos cascalhos e calcário do Médoc), a Merlot pede mais nutrientes, água na dose certa e apesar do ciclo curto de amadurecimento, tem baixa tolerância à umidade no ambiente.
Na taça, os vinhos de Saint-Émilion, dominados pela Merlot, tendem a ser macios e frescos, com os clássicos aromas de cereja e ameixa preta, e que podem ganhar profundidade e taninos conforme condições mais propícias, caso do platô de Saint-Émilion, onde estão boa parte dos châteaux Premier Grand Cru Classé (nível mais alto do ranking local), classificação criada em 1955 em resposta à classificação de 1855 de Bordeaux que contemplou apenas produtores da margem esquerda.
Château Beau-Séjour Bécot
Exatamente no platô argilo-calcário de Saint-Émilion está o Château Beau-Séjour Bécot. O nome (beau-séjour, boa estada) foi dado pelo General Jacques de Carles (da família Figeac) em 1787. A família Bécot assumiu a propriedade em 1969 e ao consolidar diferentes parcelas de vinhedos rebatizou o château com seu nome.
O Château Beau-Séjour Bécot está classificado hoje como Premier Grand Cru Classé (revisão de 2012; a classificação é revista a cada 10 anos) possui hoje 22 hectares de vinhedos, plantados com Merlot (80%), Cabernet Franc (16%) e Cabernet Sauvignon (4%) com idade média de 45 anos.
Até 2018 a consultoria enológica estava nas mãos de Michel Rolland, que foi substituído por Thomas Duclos (châteaux Canon e Troplong Mondot). As fermentações ocorrem em tanques de inox e em seguida passam para as barricas de carvalho, cerca de metade novas, onde estagiam até 18 meses. Hoje, perto de 10% do volume do vinho estagia em ânforas de argila, também por até 18 meses. Só então é feita a mescla final do vinho.