O blog da Mosto Flor, importadora e loja online de vinhos ultra premium, traz uma entrevista com o enólogo da Cave Geisse Carlos Abarzúa, responsável pela vinificação do lendário Cave Geisse Nature – Leveduras Autóctones. O chileno, radicado no Brasil há mais de 30 anos, fala sobre o início de sua carreira, sua interação com o enólogo Mario Geisse e sobre a região de Pinto Bandeira, que está prestes a se tornar uma DO-Denominação de Origem.
Mosto Flor – Quando você iniciou a sua trajetória como enólogo?
Carlos Abarzúa – Iniciei em 1984 quando me formei e vim fazer um estágio no Brasil com Mario Geisse. Na época ele era diretor técnico da Chandon Brasil, onde realizei minha tese sobre leveduras.
Mosto Flor – O que te atraiu para esta área?
Carlos Abarzúa – A paixão surgiu depois de colocar a “mão na massa”, trabalhar nos processos de vinificação, entender realmente como funciona todo este universo. Antes eu tinha muita teoria, estudava muito mas tinha pouca prática.
Mosto Flor – E em relação à espumante, qual é o seu envolvimento com esta bebida tão especial?
Carlos Abarzúa – Meu primeiro contato com este mundo foi quando ainda era estagiário em empresas que elaboram espumantes. A coisa evoluiu quando me envolvi em todo o projeto de espumantes dentro da Geisse, com o desenvolvimento das primeiras garrafas junto com o Mario Geisse. Tivemos tempo para entender esta região e realizar uma série de adaptações dos processos de elaboração e identificar as variedades que mais se adaptavam a este terroir.
Brasil, produtor dos melhores espumantes do mundo
Mosto Flor – Por que o Brasil produz um dos melhores espumantes do mundo?
Carlos Abarzúa – O Brasil pode sim elaborar espumantes de muita boa qualidade a nível mundial, competitivos. Tudo isso se deve as condições que a Serra Gaúcha e outras regiões apresentam em seu terroir, o que inclui solo, clima, pessoas, lugares. Outro fator importante é que o Brasil tem capacidade de elaborar espumantes de alta qualidade com menor tempo de guarda.
Mosto Flor – Pode-se dizer que o espumante brasileiro se diferencia de outros espumantes do mundo? Em que sentido?
Carlos Abarzúa – Sim, o espumante Brasileiro tem algumas características próprias que se diferenciam de espumantes de outras regiões; mas para mim o mais notável é que é um espumante muito fácil de beber, ainda mais o Cave Geisse Nature – Leveduras Autóctones.
Mosto Flor – Quando esta qualidade se refletirá nos preços? Digo, será que ainda estamos conseguindo comprar grandes espumantes a preços ainda abaixo do que merecem?
Carlos Abarzúa – Sim. Os espumantes premium do Novo Mundo ainda estão sendo comercializados a uma relação “custo-benefício” incrível. O valor agregado no mundo do vinho, normalmente, se dá com o passar dos tempos, após um bom período de consolidação na qual as marcas que se sobressaem conseguem demonstrar consistência, não só de qualidade, mas também de filosofia de trabalho. Alguns fatores permitem que algumas marcas, de determinadas regiões, possam ir agregando valor, sem crescer no preço, mas sim no valor, o qual deve ser percebido pelo consumidor.
Pinto Bandeira, uma nova DO
Mosto Flor – Qual é o diferencial da região de Pinto Bandeira? Será que podemos dizer que esta é a correspondente de Champagne?
Pinto Bandeira e uma região muito boa para se elaborar espumantes. Dois fatores dão a resposta para esta pergunta: o solo e a altitude. Estes dois fatores combinados – em uma região que em alguns anos chove mais de 1600 mm – são fundamentais para se obter uvas de uma sanidade muito boa, com uma acidez pronunciada e um grau alcoólico moderado.
Mosto Flor – O que falta para Pinto Bandeira virar uma DO?
Carlos Abarzúa – Todo o trabalho técnico e topográfico da DO já foi realizado já faz dois anos. Aliás estamos trabalhando há cinco anos com as normativas. Toda a documentação já foi enviada para o INPI há um ano. Por motivos da pandemia ainda não saiu nada. A última conversação com o INPI aponta que dentro dois próximos meses devemos ter notícias.
Mosto Flor – Que tipos de uvas melhor se desenvolveram nesta IP?
Carlos Abarzúa – Pinto Bandeira como indicação geográfica (IP) já tem as variedades escolhidas. No caso da DO as variedades permitidas serão Chardonnay e Pinot Noir e, em uma porcentagem muito pequena (12%), o Riesling Itálico, que são variedades que se adaptaram muito bem na região.
Mosto Flor – Cada vez mais os consumidores procuram vinhos com o mínimo de intervenção e adições. A utilização de leveduras autóctones vai nesta linha?
Carlos Abarzúa – Sim. Temos percebido uma tendência mundial nesta linha. Desde que a qualidade não seja comprometida é valido, assim é possível mostrar o potencial e a tipicidade de um terroir. Por isso é que a Geisse vem fazendo, ano a ano, este tipo de trabalho até ter certeza de não se comprometer a qualidade.